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Enem 2023: veja exemplo de redação sobre o tema 'invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher' Por g1 05/11/2023 15h34 Atualizado 06/11/2023 Folha de rascunho da Redação do Enem. — Foto: arquivo/g1 O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 é: "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Abaixo, veja um texto-modelo escrito pela professora Julia Ferreira, coordenadora de redação da plataforma Redação Nota 1000. (Antes, UM AVISO: o texto abaixo foi redigido somente a partir do tema divulgado pelo Inep. Depois que os textos de apoio foram divulgados, a professora fez uma nova versão da redação, que está em seguida.) "Os papéis desempenhados pela mulher no Brasil são de suma importância e possuem aspectos multifacetados. Entre esses, tem-se o que é conhecido como ofício de cuidado, o qual não é prestigiado e, além disso, muitas vezes não é sequer reconhecido como um trabalho de fato, demonstrando a invisibilidade do tema. Nesse sentido, segundo a Oxfam, as mulheres são as responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado, o que demonstra a predominância do feminino em detrimento do masculino nesse âmbito. Seguindo essa lógica, observam-se dois pontos que se apresentam como entraves para o enfrentamento da problemática: a atribuição de funções específicas a gêneros distintos e a conceitualização limitada do que é trabalho. Primeiramente, é preciso compreender que há uma diferenciação na construção do indivíduo enquanto homem e enquanto mulher, uma vez que a cada um desses gêneros é atribuída uma função diferente e, no caso do trabalho de cuidado, esse é feito, majoritariamente, por mulheres. Desde a maternidade até questões domésticas, o sexo feminino é encarregado do papel de cuidar, sendo essa função considerada inata a essa parcela. Assim, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em uma pesquisa intitulada “Gênero é o que importa”, a produção dos papéis de gênero ocorre na medida em que há diferentes percepções dessas categorias a partir de práticas que afirmam a masculinidade e a feminilidade, sendo o papel de cuidar associado à mulher com a justificativa arcaica de que, nela, os instintos maternos são aflorados, quando, na verdade, a função do gênero é uma construção social. A partir dessa observação, nota-se que a ocupação de cuidado é atrelada à mulher sem que isso seja questionado, perpetuando o problema. Além disso, tem-se a ideia deturpada, no senso comum, do que é o trabalho. Para Marx, o trabalho é uma dimensão ineliminável da vida humana, ou seja, uma dimensão ontológica, visto que tem a função fundamental de servir à sociedade e, por meio dele, o homem cria a sua realidade. Contudo, no capitalismo, nota-se que o conceito de trabalho é confundido com a ideia de emprego, que está associada à produção de valores de uso para produzir valores de troca. Nessa perspectiva, os trabalhos que não possuem reconhecimento financeiro, como os de cuidado, exercidos, em sua maioria, por mulheres, são invisibilizados e colocados como uma função do próprio gênero. Isso demonstra que há uma barreira para que as mulheres possam ter os seus esforços reconhecidos. Diante do exposto, percebe-se que a construção de papéis de gênero e a concepção indevida do que é trabalho se apresentam como desafios para que o ofício de cuidado seja visibilizado e para que as mulheres possam ter suas atividades reconhecidas. Sendo assim, cabe à sociedade civil - principal agente de mudanças sociais -, por meio da organização política, a criação de redes de apoio que possam fragmentar as demandas atribuídas às mulheres em demais pessoas, retirando a sobrecarga vivida por essa parcela da população. Com isso, espera-se que o trabalho invisível seja não somente legitimado, mas também valorizado. Também, cabe ao Ministério do Trabalho a revisão da remuneração por serviços de cuidado, reconhecendo financeiramente essa ocupação tão importante." Abaixo, confira a versão da redação feita com o apoio dos textos-base. "A mulher desempenha papéis cruciais no Brasil, dentre eles o "ofício de cuidado", frequentemente desvalorizado e não reconhecido como um “trabalho real”. Nesse sentido, a Oxfam relata que as mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado, evidenciando uma desigualdade de gênero nesse campo. Assim, tem-se dois desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil: a atribuição de funções de gênero específicas e uma compreensão limitada do trabalho. De início, deve-se ter em mente que a diferenciação de gênero perpetua a ideia de que as mulheres têm uma função inata de cuidado, que abrange tarefas como o zelo pelos filhos e os afazeres domésticos. Essa atribuição de papéis de gênero é uma construção social, como afirmado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mas persiste devido a noções antiquadas de feminilidade, como “cozinha é lugar de mulher”. A partir dessa observação, nota-se que a ocupação de cuidado é atrelada à mulher sem que isso seja questionado, sobrecarregando-a com duplas jornadas de trabalho - em casa e fora dela. Além disso, há uma confusão comum entre "trabalho" e "emprego". De acordo com Marx, o trabalho é essencial para a sociedade, mas, no capitalismo, o reconhecimento, tanto financeiro quanto social, muitas vezes só é atribuído ao emprego que produz valor de consumo e bens de troca. Por conta disso, serviços não remunerados predominantemente executados por mulheres, como o cuidado da família e da casa, embora essenciais para a sociedade, não são percebidos como valiosos no atual sistema econômico. Sendo assim, apesar de demandarem tempo e energia, essas ações não recebem o reconhecimento necessário. Diante do exposto, percebe-se que a construção de papéis de gênero e a concepção indevida do que é trabalho se apresentam como desafios para que o ofício de cuidado seja visibilizado e para que as mulheres possam ter suas atividades reconhecidas. Sendo assim, cabe à sociedade civil - principal agente de mudanças sociais -, por meio da organização política, a criação de redes de apoio que possam repartir as demandas atribuídas às mulheres com mais pessoas, retirando a sobrecarga vivida por essa parcela da população. Com isso, espera-se que o trabalho invisível seja não somente legitimado, mas também valorizado. Também, cabe ao Ministério do Trabalho a revisão da remuneração por serviços de cuidado, reconhecendo a dimensão ontológica fundamental dessa atividade, assim como postulado por Marx." RESOLUÇÃO DO ENEM 2023, AO VIVO: o g1 corrigirá a prova a partir das 18h30 deste domingo. O programa será transmitido na página do g1 e nos canais no YouTube e no TikTokGABARITO EXTRAOFICIAL DO ENEM 2023: Anglo fará a correção das questões do 1º diaCOBERTURA EM TEMPO REAL - acompanhe por aquiGALERIA DE FOTOS - veja galeria do primeiro dia de exame Confira o tema da redação do Enem em outros anos Enem 2022 - "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil"Enem 2021 - "Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil"Enem 2020 - "O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira", na versão impressa; e "O desafio de diminuir a desigualdade entre regiões no Brasil", na digital.Enem 2019 - "Democratização do acesso ao cinema no Brasil"Enem 2018 - "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet"Enem 2017 - "Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil"Enem 2016 - "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”Enem 2015 - "A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira"Enem 2014 - "Publicidade infantil em questão no Brasil"


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