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Entidades científicas rebatem políticos do agro sobre críticas ao Enem e chamam de 'censura' pedido de anulação de questões Por g1 09/11/2023 10h06 Atualizado 09/11/2023 Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pediu a anulação de três perguntas do Enem 2023, alegando serem "ideologizadas". Questões abordavam prejuízos do agronegócio para os camponeses, desmatamento da Amazônia no cultivo da soja e corrida espacial. Em nota de repúdio, entidades científicas dizem que bancada do agro tenta censurar a prova em postura "rancorosa" e "negacionista". Capa do caderno de provas do Enem 2023 — Foto: Reprodução/g1 Entidades acadêmicas chamaram de "tentativa de censura" o pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para que sejam anuladas três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, aplicadas no último domingo (5): uma sobre a exploração do Cerrado e os prejuízos do agronegócio para os camponeses; outra acerca do desmatamento da Amazônia no cultivo da soja; e uma terceira a respeito da corrida espacial. A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege), que representa mais de 70 programas acadêmicos, e a Associação dos Geógrafos Brasileiros referem-se especialmente às duas primeiras perguntas da lista acima, que trazem excertos de artigos científicos. Por meio de nota de repúdio, as entidades defendem a credibilidade dos autores das pesquisas e dizem que "a insatisfação e a manifestação barulhenta de parte dos congressistas" traz "ranços do negacionismo científico" do governo Bolsonaro e demonstram um "comportamento rancoroso". Leia mais abaixo. Contexto: A bancada do agro criticou a "ideologização do Enem" no governo Lula e a escolha de perguntas consideradas por deputados como enviesadas e contrárias às práticas capitalistas no campo. O presidente da FPA e deputado federal do PP, Pedro Lupión, pediu que o ministro da Educação, Camilo Santana, falasse a respeito "da falta de honestidade intelectual". Postura do Inep: Em audiência na Comissão de Educação da Câmara, nesta quarta-feira (8), o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Manuel Palácios, afirmou que os candidatos tinham apenas de interpretar os textos e responder às questões, sem necessariamente concordar com o que os autores dos trechos escreveram. "A resposta correta não depende de opinião, atitude, visão de mundo. Depende da capacidade de compreender um texto", disse. Ao g1, o órgão reforçou que não interfere nas ações dos colaboradores selecionados para compor o Banco Nacional de Itens (de onde são selecionadas as perguntas). EM TEMPO REAL: g1 corrigirá, ao vivo, questões do 2º dia de Enem; veja vídeos do 1º domingo 'Inversão absurda e tragicômica da realidade', dizem acadêmicos As entidades científicas afirmam que: as pesquisas citadas nas perguntas do Enem foram produzidas a partir de "minuciosa investigação", com visitas a campo, coleta de depoimentos e mapeamento de áreas; esses estudos confirmam o que a comunidade científica internacional vem alertando: que "o avanço do agronegócio violenta e desterritorializa comunidades tradicionais que dominam o manejo sustentável da biodiversidade, especialmente nos biomas Cerrado e Amazônia"; os autores dos textos são "doutores com vasta experiência acadêmica e científica, com larga publicação de livros e artigos, carreira consolidada e premiados por suas respectivas comunidade". "Este comportamento rancoroso [de pedir a anulação das questões], sim, precisa ser compreendido como manifestação de uma ideologia extemporânea, classista e excludente, que sentencia o Brasil a ser uma nação socialmente injusta e com desigualdades econômicas (...)", aponta o texto. "A nota de ameaça e censura publicada pela Frente Parlamentar da Agropecuária usa a noção de negacionismo científico contra os próprios cientistas e os resultados das suas pesquisas, em uma inversão absurda e tragicômica da realidade." Políticos apontaram 'incitação ao ódio' A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) afirma que as três questões do Enem "são mal formuladas, de comprovação unicamente ideológica" e permitem "que o aluno marque qualquer resposta, dependendo do seu ponto de vista". Diz também que foram elaboradas "sem critério científico ou acadêmico". No X (antigo Twitter), o deputado Zucco (Republicanos), presidente da CPI do MST, escreveu que a questão é "absurda" por "incitar o ódio ao agronegócio". "O uso da máquina pública para fins ideológicos precisa ser explicado e exige retratação". Já o agrônomo Xico Graziano (sem partido) criticou a defesa da "recampenização". "Manter os pequenos produtores rurais plantando sementes crioulas, carpindo na enxada e vendendo ovo caipira na feirinha significa negar a evolução tecnológica no campo. Negacionismo puro." O que diziam as questões do Enem? Pergunta sobre o Cerrado ( 89 na prova branca, 48 na azul, 81 na amarela e 57 na rosa): A questão apontava fatores negativos do agronegócio no Cerrado, a partir de um trecho do artigo científico "Territorialização do agronegócio e subordinação do campesinato no Cerrado", publicado em 2021 na revista de geografia da Universidade Estadual de Goiás (UEG). O excerto mencionava, em resumo, que: o "capital impõe os conhecimentos biotecnológicos" às práticas agrícolas; os homens e mulheres ficam "subordinados à lógica do mercado"; "as águas, as sementes, os minerais e as terras tornam-se propriedade privada"; o agronegócio provoca violência simbólica, superexploração dos trabalhadores, "chuvas de veneno" (em referência ao uso de agrotóxicos) e "pragatização" dos seres humanos. A alternativa correta, segundo o gabarito extraoficial do g1, apontava que, de acordo com o texto, há "um cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida" (letra "a"). Questão do Enem abordava o agronegócio no Cerrado — Foto: Reprodução/Inep/Anglo Pergunta sobre a Amazônia (70 na prova branca, 71 na azul, 57 na amarela e 81 na rosa) A questão trazia um trecho do estudo "A Amazônia e a nova geografia da produção da soja", publicado em 2006 pelo departamento de geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH - USP). O excerto associava a produção da soja à retomada do desmatamento: Resposta comentada da questão 70 do caderno branco, 1º dia de Enem 2023. — Foto: Anglo Pergunta sobre a corrida espacial (questão 71 na prova branca, 72 na azul, 58 na amarela e 82 na rosa): A terceira questão criticada pela FPA não traz trechos de artigos científicos, e sim um parágrafo de uma reportagem jornalística e uma charge. Por isso, não foi mencionada pelas entidades acadêmicas. Resposta comentada da questão 71 do caderno branco, 1º dia de Enem 2023. — Foto: Anglo 2º dia do Enem No próximo domingo (12), os candidatos farão as provas de matemática e ciências da natureza. Confira os horários de aplicação (no fuso de Brasília): Abertura dos portões: 12hFechamento dos portões: 13hInício das provas: 13h30Término das provas no 2º dia: 18h30 O candidato só poderá sair com o Caderno de Questões nos últimos 30 minutos de prova. No vídeo abaixo, veja se macetes de matemática realmente ajudam no Enem: Veja se macetes de matemática realmente ajudam no Enem


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