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1991_educacao

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Decorar Constituição, Drummond ou Platão vale nota mil na redação do Enem ou é tiro no pé? Por Emily Santos, g1 — São Paulo 08/10/2024 05h02 Atualizado 08/10/2024 Drummond e a Constituição de 1989 são elementos muito citados na redação do Enem. — Foto: g1/ Gabriel Wesley Marques Santos Muitos estudantes que vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em novembro já planejam citar a Constituição Federal, Drummond, Bauman e outros “repertórios coringas” em suas redações, seja qual for o tema proposto. Segundo professores ouvidos pelo g1, essa estratégia — que tem se tornado cada vez mais comum entre os jovens que já estão familiarizados com o tipo de texto e com as competências do exame — pode ser um tiro no pé para quem não sabe aplicar devidamente os repertórios socioculturais. De acordo com a cartilha da redação do Enem, divulgada anualmente pelo Inep, é considerado repertório sociocultural “uma informação, um fato, uma citação ou uma experiência vivida que, de alguma forma, contribui como argumento para a discussão proposta”. Esse é um dos elementos que devem contar obrigatoriamente no texto e que compõe a competência 2, que vale 200 dos mil pontos máximos da redação. (Entenda mais abaixo). Mas, se a referência for feita da maneira errada, pode custar ao aluno pontos de outras competências. Abaixo, entenda se e como referências como essa devem ser feitas, e como evitar a perda de pontos em outros elementos do texto. Como a redação é avaliada Formato A redação do Enem deve ser uma dissertação argumentativa com proposta de intervenção. O texto deve ser organizado em parágrafos que discorram, por meio de argumentos e referências externas, sobre o problema apresentado no tema. Além disso, o autor precisa apresentar no texto uma sugestão de como solucionar o problema. Competências Ao todo, a redação vale 1000 pontos. Estes pontos podem ser alcançados pelo candidato que cumpre adequadamente com as 5 competências obrigatórias. São elas: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Essas competências têm seus próprios elementos obrigatórios e valem 200 pontos cada. O candidato que respeitar todos estes elementos alcança a tão sonhada nota 1000. Repertório sociocultural Um dos elementos que pode ajudar ou impedir o aluno de conseguir 200 pontos na competência 2 é o uso de repertórios socioculturais na argumentação do texto. O candidato pode citar livros, filmes, músicas, notícias ou outros elementos que tenham relação com o tema. Para fins de validação da nota, é preciso colocar no texto apenas uma referência, mas o autor pode usar mais de uma se desejar — desde que os elementos contribuam para o desenvolvimento ou defesa da ideia apresentada no texto. Mesmo que a cartilha da redação apresente o repertório cultural de uma maneira simples, muitos candidatos acreditam que referências mais formais podem pesar na nota. Mateus Leme, professor de redação da Oficina do Estudante, avalia que, atualmente, não é bem assim, mas explica que isso já ocorreu no passado. Por isso, o professor diz que não faz diferença na nota se o aluno cita um influenciador social ou um acontecimento midiático recente, em vez de referenciar historiadores, por exemplo. Isso, claro, desde que a referência esteja dentro do tema proposto. 'Enem': primeiro dia tem provas de Linguagens, Ciências Humanas e Redação Referências "coringas" Ainda assim, muitos alunos se preparam para o Enem com base em repertórios mais formais e até optam por estudar referências mais “versáteis”. Segundo professores, algumas das referências que têm aparecido repetidamente nas redações são: Constituição Federal de 1988Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONUZygmunt Bauman (filósofo e sociólogo)Carlos Drummond de Andrade (poeta e cronista)Machado de Assis (escritor)Platão (filósofo e matemático)Jessé Souza (escritor e sociólogo) “Não é que o uso de referências como estas seja incorreto. O candidato pode e deve usar qualquer repertório que consiga amarrar com a argumentação do tema. O que não deve acontecer é ser uma referência forçada ou uma citação genérica”, avalia Mateus Leme. Definir um autor ou uma referência previamente para utilizar na redação sem saber qual será o tema proposto pode prejudicar o candidato. Com isso, mesmo que o candidato pontue no aspecto do repertório, na competência 2, ele pode acabar perdendo pontos na argumentação, avaliada da competência 3. "A citação ou referência precisa dialogar com o texto, reforçar alguma ideia do próprio autor, da problemática do tema, ou mesmo sobre a propósta de intervenção. Portanto, decorar um repertório que pode não ser relacionável a nada disso numa eventual redação não é um risco válido", completa Felipe Leal. E a Constituição? Trecho da redação nota mil de Indira Morgana no Enem 2023 — Foto: Reprodução/Inep O repertório cultural mais comum nas redações do Enem é a Constituição Federal, segundo os professores. Isso acontece porque o texto constitucional brasileiro é muito amplo, o que lhe confere uma versatilidade muito apreciada pelos candidatos do exame, e o torna facilmente relacionável à diversas propostas de texto. O mesmo cuidado deve ser tomado quando a Carta Magna for usada no texto. "Só citar a Constituição nominalmente não é o suficiente para reforçar uma argumentação. Se o objetivo do aluno for usá-la no texto, que seja algo mais específico e detalhado. Ou, em último caso, opte por uma referência mais conhecida", aconselha Mateus Leme. Os professores explicam que o principal é não entender a redação como algo pré-delimitado. "O tema é específico e o tamanho do texto é limitado, mas aquele ainda é um espaço para o aluno mostrar sua originalidade e a legitimidade de suas ideias. Não vale a pena arriscar justamente essa oportunidade para dar vez a um repertório específico que, na maioria das vezes, o aluno só decorou", finaliza Mateus Leme, da Oficina do Estudante. 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