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Em crise, Correios lançam proposta que prevê redução de jornada, suspensão de férias e fim do trabalho remoto Por Vinícius Cassela, g1 — Brasília 12/05/2025 16h51 Atualizado 12/05/2025 Os Correios divulgaram um plano estratégico para contornar o prejuízo de R$ 2,6 bilhões obtido em 2024. Entre as medidas anunciadas está o incentivo à redução de jornada de trabalho e, consequentemente, à redução do salário dos trabalhadores. A empresa espera economizar R$ 1,5 bilhão em 2025 com as medidas. O déficit em 2024 é quatro vezes maior do que o registrado no ano anterior, quando o prejuízo foi de R$ 597 milhões. Correios justificam o prejuízo que tiveram em 2024. — Foto: Reprodução Os Correios divulgaram nesta segunda-feira (12) um plano estratégico de trabalho para contornar o prejuízo de R$ 2,6 bilhões obtido em 2024 e melhorar o fluxo de caixa da empresa. Entre as medidas anunciadas está o incentivo à redução de jornada de trabalho e, consequentemente, à redução do salário dos trabalhadores. O documento foi divulgado internamente e disponibilizado pela empresa. Caso o plano consiga alcançar todos os itens apresentados, os Correios esperam economizar R$ 1,5 bilhão em 2025. "Estamos diante de um desafio importante: a necessidade de reduzir despesas", afirma o texto. Para que a proposta funcione, a empresa espera contar com o apoio dos funcionários. São cerca de 86 mil profissionais que serão atingidos diretamente pelas medidas. "Neste momento, a contribuição de cada empregada e empregado, por menor que pareça, é valiosa. Juntos, temos todas as condições de superar os desafios e construir um futuro mais promissor e vitorioso para nossa equipe". Puxado pelos Correios, estatais têm pior déficit da série histórica As medidas tomadas pela empresa são: Revisão da estrutura dos Correios Sede: redução de pelo menos 20% do orçamento de funções (redução dos cargos comissionados); Incentivo à redução da jornada de trabalho: diminuição do horário de trabalho para 6 horas diárias e 34h semanais. Atualmente, são 8h diárias e 44h semanais. Suspensão temporária de férias: a partir de 1º de junho de 2025, referente ao período aquisitivo deste ano. As férias voltarão a ser usufruídas a partir de janeiro de 2026; Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV): até 18 de maio de 2025, mantendo os atuais requisitos de elegibilidade; Incentivo à transferência, voluntária e temporária, de agente de correios: o pagamento do adicional de atividade será o mais vantajoso para empregados; Convocação para o retorno ao regime de trabalho presencial: todos os empregados devem retornar ao trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025, com exceção daqueles protegidos por decisão judicial; Lançamento de novos formatos de planos de saúde: a escolha da rede credenciada será dialogada com as representações sindicais. A economia estimada será de 30%; Lançamento do marketplace próprio ainda em 2025; Captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB), para investimentos internos. Aumento de despesas No texto, a empresa estatal justifica o prejuízo que teve em 2024 e argumenta que a situação se deve aos impactos da "queda nas receitas com encomendas internacionais", conforme mostrou o g1 em abril. Porém, reconhece um aumento de despesas no período. Entre os aumentos significativos registrados ano passado estão os custos operacionais, que aumentaram R$ 716 milhões em relação ao ano anterior. Passando de R$ 15,2 bilhões para R$ 15,9 bilhões. Esse é o maior custo anual realizado pelos Correios desde 2017, quando a empresa gastou R$ 16 bilhões, diz o texto. A maior parte desse aumento de custos corresponde aos gastos com pessoal, que passou de R$ 9,6 bilhões em 2023 para R$ 10,3 bilhões em 2024. No relatório de Demonstrações Financeiras, os Correios justificaram que esse aumento se deveu ao Acordo Coletivo de Trabalho assinado com mais de 80 mil empregados (R$ 550 milhões).Além do reajuste do vale alimentação/refeição (R$ 41 milhões). Por isso, a empresa aponta a necessidade de apoio dos funcionários. Demonstrações financeiras são relatórios de contabilidade que mostram a situação financeira de uma empresa em um determinado período. Prejuízo de R$ 2,6 bilhões O déficit em 2024 é quatro vezes maior do que o registrado no ano anterior, quando o prejuízo foi de R$ 597 milhões. O termo "déficit" significa que o gasto somado foi maior que a receita que os Correios conseguiram gerar no ano. Na apresentação deste ano, os Correios reajustaram os dados de 2023 para melhor representar as normas contábeis e, assim, o resultado final do ano anterior acabou subindo para R$ 633 milhões. Correios registram prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024, aponta relatório Esta é a primeira vez, desde 2016, que os Correios apresentam um prejuízo bilionário em suas operações. À época, a empresa teve prejuízo de R$ 1,5 bilhão (R$ 2,3 bilhões em valores atualizados). Entre as justificativas dadas pela empresa para o resultado negativo, está o fato de que apenas 15% das 10.638 unidades de atendimento terem superávit — quando as receitas são maiores do que as despesas. "Ainda que 85% das unidades sejam consideradas deficitárias, os Correios garantem o acesso universal de todas e todos aos serviços postais, com tarifas justas, em cada um dos 5.567 municípios atendidos", ponderou os Correios. Investimentos Por outro lado, a empresa também justificou que houve um investimento de R$ 830 milhões ao longo de 2024, totalizando R$ 1,6 bilhões desde que a nova gestão assumiu. Nos últimos dois anos foram R$ 698 milhões na aquisição de novos veículos e outros R$ 600 milhões gastos em manutenção da infraestrutura operacional da empresa. Parte dos veículos adquiridos faz parte do plano estratégico da empresa, que estabelece um prazo de 5 anos para transição ecológica de suas atividades. Desta forma, apenas em 2024 foram adquiridos: 50 furgões elétricos;3.996 bicicletas cargo com baú; e 2.306 bicicletas elétricas. A empresa ainda comprou 1.502 veículos para renovar a frota já existente. Apesar do prejuízo em 2024, a estatal reafirmou que manterá sua estratégia de investimentos que ampliem "soluções tecnológicas" e reduzam o impacto no meio ambiente. "A sustentabilidade continuará a ser tema central em nosso dia a dia. Esperamos evoluir ainda mais em nossos propósitos de caráter social e ambiental", afirmou a empresa. Fluxo de caixa Outra situação que afetou os Correios em 2024 e que tem trazido problemas para a empresa neste ano é a redução da liquidez financeira da empresa. De acordo com as Demonstrações Financeiras divulgadas na sexta-feira (9) passada, a empresa utilizou R$ 2.9 bilhões do dinheiro que estava no caixa e em aplicações financeiras, totalizando 92% do que estava aplicado em 2023. Na apresentação mais recente, a empresa afirmou que tinha apenas R$ 249 milhões nessas contas. Essa escassez de dinheiro faz com que os Correios atrasem repasses e pagamentos aos envolvidos no processo de geração de receita da empresa. Com isso, desde o começo de abril, transportadoras que prestam serviço para os Correios estão paralisadas ou trabalhando em um ritmo mais lento, o que resulta em uma demora maior para o envio e entrega de encomendas. No começo do ano, a empresa também atrasou o repasse da comissão das agências conveniadas – franqueados que prestam serviço de recebimento e despacho de encomendas.