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Estudo analisa fragmentação espacial em dez cidades brasileiras e aponta que mobilidade urbana em Presidente Prudente sofreu retrocessos nos últimos anos Por Júlia Guimarães, g1 Presidente Prudente 17/10/2024 13h40 Atualizado 17/10/2024 Estudo analisa fragmentação espacial em dez cidades brasileiras — Foto: Equipe FragUrb (financiamento Fapesp) Ao estudar dez áreas urbanas brasileiras, entre elas, oito cidades médias e dois distritos urbanos da Região Metropolitana de São Paulo (SP), a pesquisa intitulada “Fragmentação Socioespacial e Urbanização Brasileira: Escalas, Vetores, Ritmos, Formas e Conteúdos”, coordenada pela pós-doutora e professora titular da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) em Presidente Prudente (SP), Maria Encarnação Beltrão Sposito, realiza, nesta sexta-feira (18), um workshop de encerramento com os membros da equipe em um evento fechado, no próprio campus, que contará com diferentes atividades ao longo do dia. Já no dia 6 de novembro, o estudo será apresentado em um congresso da Universidade de Lisboa, em Portugal. Participe do Canal do g1 Presidente Prudente e Região no WhatsApp Ao g1, a pesquisadora explicou que o processo estudado foi o de fragmentação socioespacial, que se refere à tendência de composição da cidade e da vida urbana de modo menos integrado do que no passado. Desta forma, o estudo visou a compreender, no plano da cidade e do urbano, como este processo altera o conteúdo da diferenciação e das desigualdades, redefinindo os sentidos do direito à cidade. Maria Encarnação afirmou que o processo de fragmentação socioespacial pode ocorrer de três modos diferentes, por meio de: dispersão do tecido urbano: a cidade cresce em território mais do que em população, aumentam os terrenos não ocupados e ao mesmo tempo a cidade fica marcada por descontinuidades; práticas espaciais: os moradores vão se separando social e espacialmente em seus cotidianos, diminuindo os espaços que são compartilhados por diferentes classes sociais; eimaginários sociais: modos como representamos coletivamente o que são os espaços bons e os demais nas cidades gerando práticas de evitação, segregação ou estigmatização territorial. Segundo a geógrafa, a ideia para o estudo também surgiu de outras pesquisas realizadas anteriormente: uma primeira sobre espaços residenciais fechados e controlados por sistemas de segurança (o que, popularmente, são chamados de condomínios, embora nem todos sejam juridicamente condominiais); euma segunda sobre as mudanças no comércio e no consumo, com o aumento da presença de shopping centers, hipermercados, lojas de franquias ou de grandes redes comerciais e de serviços. “Nestas duas pesquisas, já emergiam observações claras de que há cada vez maior separação entre os grupos sociais nas cidades”, pontuou a pesquisadora ao g1. Geógrafa e professora pós-doutora Maria Encarnação Beltrão Sposito atua no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP) — Foto: Redes sociais Pesquisa Ao todo, participaram da pesquisa 130 pessoas, que integram diferentes universidades brasileiras: Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa);Universidade Estadual do Ceará (Uece);Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD);Universidade Federal Fluminense (UFF);Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS);Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ);Universidade Federal do ABC (UFABC);Universidade Federal de Uberlândia (UFU);Universidade do Estado do Amazonas (UEA)Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS);Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Além da Université de Paris e da The London School of Economics and Political Science. Maria Encarnação pontuou que a maior parte dos pesquisadores doutores e estudantes que integraram o estudo foram do campus da Unesp, em Presidente Prudente, que sediou e coordenou a pesquisa. Ela também explicou que os alunos eram, principalmente, do curso de geografia, mas o trabalho também contou com a participação de estudantes de arquitetura e urbanismo. Para pesquisa, a geógrafa afirmou que foram analisadas as cidades de: Chapecó (SC), Dourados (MS), Ituiutaba (MG), Marabá (PA), Maringá (PR), Mossoró (RN), Presidente Prudente, Ribeirão Preto (SP), e os distritos urbanos de: Cidade de Tiradentes, em São Paulo (SP), e Pimentas, em Guarulhos (SP). Pesquisadores estudaram diferentes planos analíticos das cidades — Foto: Equipe FragUrb (financiamento Fapesp) Além disso, foram priorizados quatro temas centrais: centro, centralidade e mobilidade urbana; práticas espaciais e cotidiano; espaços públicos; eprodução da habitação. Mapa produzido sobre a cidade de Presidente Prudente (SP) — Foto: Equipe FragUrb (financiamento Fapesp) Retrocessos na mobilidade urbana Assim, pelos resultados de três frentes metodológicas diferentes, sendo elas grupos focais, entrevistas e percursos, foi analisado que a mobilidade urbana em Presidente Prudente sofreu retrocessos nos últimos anos. “De um lado, os mais pobres foram morar ainda mais longe, de outro, o transporte coletivo não oferece a cobertura espacial e a frequência necessária aos deslocamentos. Assim, o transporte coletivo vai sendo substituído pelo individual, como carros, motos, Uber e outros aplicativos. Em algumas situações, os que moram mais distantes se movimentam menos, ou seja, ficam mais circunscritos a seus bairros periféricos. Em outras situações, aumenta o peso do custo do transporte nas despesas mensais das famílias. Essa tendência amplia a separação socioespacial entre o Norte e o Leste da cidade, onde moram os estratos sociais de menor poder aquisitivo, e o Sul e o Oeste, onde estão a classe média, a elite, sendo essa é uma das expressões da fragmentação socioespacial”, contextualizou a pesquisadora ao g1. Além disso, Maria Encarnação ressaltou que a pesquisa não é voltada ao planejamento da cidade e, por isso, não teve o objetivo de oferecer ideias ou propostas. Entretanto, ela disse que isso acaba ocorrendo e destacou alguns pontos para a melhora da mobilidade urbana: a necessidade de revisão total do sistema de transporte urbano, hoje, ainda organizado por linhas centro-periféricas, ainda sem articulação entre modais e com conforto reduzido em terminais urbanos;a importância de valorização de espaços públicos, tanto os mais importantes da cidade, com destaque para o Parque do Povo, mas também os periféricos. Nestes espaços, a vida urbana ocorre e há possibilidade de encontro entre os diferentes, se forem espaços bem cuidados, equipados e que sejam atendidos por programas esportivos e culturais; eo desenvolvimento de políticas públicas que sejam capazes de promover equidade territorial (mais investimentos nas áreas mais pobres, para compensar as dificuldades de renda das famílias). Geógrafa e professora pós-doutora Maria Encarnação Beltrão Sposito atua no campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente (SP) — Foto: TV Fronteira Ao g1, a geógrafa destacou a importância em falar sobre a mobilidade urbana e o que ela representa para uma cidade. “A mobilidade urbana é essencial. Por meio dela é que podemos viver a cidade de modo pleno. Realizar percursos que conectam as áreas residenciais ao trabalho, ao lazer, ao consumo, enfim, à vida social, política e econômica. Quando a mobilidade urbana se realiza de forma adequada, podemos considerar que há justiça espacial, ou seja, estão oferecidas as condições para todos, independentemente das condições socioeconômicas, ir e vir, apropriar-se de tudo que a cidade oferece”, explicou Maria Encarnação. Ela também complementou que o transporte individual pode ampliar problemas sociais e ambientais “A opção pelo transporte individual amplia as diferenças sociais, aumenta o tráfego e traz problemas ambientais. Valorizar o transporte público de qualidade, favorecer a circulação por bikes ou para pedestres são as formas mais avançadas observadas em cidades em que se considera que a qualidade de vida é essencial ", pontuou ao g1. Estudo analisa fragmentação espacial em dez cidades brasileiras — Foto: Equipe FragUrb (financiamento Fapesp) Resultados A pós-doutora informou que os resultados da pesquisa serão publicados em quatro livros que já estão sendo encaminhados para a editora. Além disso, foram publicados artigos e apresentados os resultados em congressos científicos no Brasil e no exterior. Para tornar mais acessível esses dados, a especialista explicou que o grupo está providenciando a disponibilização de vídeos curtos, de cinco minutos cada, com os resultados das pesquisas de todos os participantes. E que, a partir do começo de novembro, eles estarão já no site, que já conta com as publicações sobre o tema em cada cidade. Além disso, Maria Encarnação ressaltou que o estudo já está sendo apresentado em vários congressos. “O relatório final será encaminhado no começo de novembro à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que financiou o estudo e que ofereceu dezenas de bolsas para estudantes de vários níveis”, finalizou a especialista ao g1. Estudo analisa fragmentação espacial em dez cidades brasileiras — Foto: Equipe FragUrb (financiamento Fapesp) VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.