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Auroras boreais e tempestades geomagnéticas podem se tornar mais comuns e intensas, aponta estudo sobre ciclo solar Por Redação g1 22/05/2025 15h45 Atualizado 22/05/2025 O Sol está mais ativo e deve permanecer assim por décadas. Esse aumento está associado a mais tempestades geomagnéticas e, consequentemente, a mais auroras em latitudes médias. Ao mesmo tempo, haverá redução do fluxo de prótons da zona interna, potencialmente reduzindo alguns riscos para satélites. A pesquisa destaca a importância de monitoramento contínuo e de considerar essas mudanças no planejamento de tecnologias e missões espaciais. Sabrina Chinellato fotografou uma aurora boreal pouco antes de aterrisar na Noruega — Foto: Sabrina Chinellato Um novo estudo publicado na revista científica "Space Weather" sugere que o Sol pode estar iniciando uma fase de atividade elevada que pode durar várias décadas, aumentando a frequência e a intensidade das auroras boreais — fenômenos luminosos que normalmente ocorrem perto dos polos, mas que têm sido observados em latitudes médias, como em partes dos Estados Unidos e da Europa. O que diz o estudo e quem são os autores A pesquisa foi conduzida por Kalvyn Adams, do Departamento de Astrofísica e Ciências Planetárias da Universidade do Colorado, em parceria com cientistas da Dartmouth College, Universidade da Pensilvânia e do Laboratório de Pesquisa de Veículos Espaciais da Força Aérea dos Estados Unidos. O artigo, intitulado “Turnover in Gleissberg Cycle Dependence of Inner Zone Proton Flux”, foi publicado em março. Metodologia: análise de 40 anos de dados Os pesquisadores analisaram mais de 40 anos de dados coletados por satélites ambientais da NOAA que orbitam a Terra e cruzam a Anomalia do Atlântico Sul (SAA) — uma região onde o campo magnético terrestre é mais fraco, permitindo a entrada e observação de partículas energéticas vindas do espaço, como prótons de alta energia. Essa área é estratégica para o estudo porque funciona como uma “janela” natural para monitorar as partículas que compõem a radiação espacial próxima à Terra, especialmente na zona interna dos cinturões de radiação. Aurora boreal é vista em Sodankyla, na Finlândia — Foto: Alexander Kuznetsov/All About Lapland via Reuters Principais descobertas O estudo identificou uma mudança significativa na Anomalia do Atlântico Sul (região onde o campo magnético da Terra é mais fraco, facilitando a entrada de partículas energéticas na atmosfera): após décadas de aumento no fluxo de prótons, houve uma queda acentuada a partir de 2022, coincidindo com o início do atual ciclo solar (ciclo 25). Essa redução é explicada pelo aumento da radiação solar, que aquece e expande a atmosfera terrestre, intensificando a perda dessas partículas. Esse padrão é consistente com a hipótese do Ciclo Centennial de Gleissberg (CGC), uma oscilação secular da atividade solar com duração aproximada de 80 a 100 anos, que modula períodos de maior ou menor atividade do Sol. O que é o Ciclo Centennial de Gleissberg? O CGC é um ciclo solar de longo prazo identificado por variações recorrentes no número e intensidade das manchas solares ao longo de séculos. Segundo os autores, o Sol teria recentemente passado por um mínimo prolongado e estaria agora entrando em uma fase de ascensão, o que pode resultar em ciclos solares mais intensos nas próximas décadas. Impactos na ocorrência das auroras boreais O aumento da atividade solar está diretamente ligado a um maior número e intensidade de tempestades geomagnéticas — eventos que interagem com o campo magnético da Terra e são a principal causa das auroras boreais. Conforme destacado no estudo: “Maior atividade solar geralmente significa mais, e mais intensas, tempestades geomagnéticas — uma causa essencial para espetaculares exibições de auroras.” Em maio de 2024, por exemplo, uma tempestade solar extrema permitiu a observação das auroras em latitudes médias, como o centro dos Estados Unidos e partes da Europa, evento considerado o mais intenso desde 2003. Rara aurora boreal ilumina o céu noturno de Altay, em região autônoma da China Controvérsias e opiniões de especialistas Apesar do otimismo dos autores, a comunidade científica ainda debate a interpretação dos dados. O físico solar Scott McIntosh, ouvido pela revista Forbes, recomenda cautela e afirma que é “cedo demais” para afirmar que o CGC entrou em uma nova fase de alta atividade, ressaltando a necessidade de mais estudos e dados para confirmar essa tendência. Implicações para satélites e missões espaciais A diminuição do fluxo de prótons na zona interna dos cinturões de radiação pode reduzir a exposição de satélites a essas partículas altamente energéticas, especialmente ao cruzarem a Anomalia do Atlântico Sul, o que pode diminuir certos riscos para a operação dessas tecnologias. Por outro lado, o aumento da atividade solar implica maior frequência de tempestades solares extremas, como a registrada em maio de 2024, que podem afetar satélites, redes elétricas e comunicações. Por que isso importa para o público e para a ciência As mudanças na atividade solar influenciam não apenas a beleza das auroras, mas também têm impacto direto em tecnologias espaciais, comunicações e redes elétricas na Terra. Compreender os ciclos solares e suas variações de longo prazo é fundamental para o planejamento de missões espaciais, proteção de infraestruturas e previsão de eventos climáticos espaciais. Além disso, a possibilidade de auroras mais intensas e visíveis em regiões mais ao sul pode despertar maior interesse público e científico sobre o fenômeno. Auroras boreais são registradas do espaço