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Cientista-chefe da Colossal admite que 'lobo-terrível' recriado é, na verdade, um lobo-cinzento com alterações genéticas Por Redação g1 22/05/2025 17h59 Atualizado 22/05/2025 Cientista-chefe da Colossal Biosciences admitiu que os animais apresentados pela empresa como "lobos-terríveis" são, na realidade, lobos-cinzentos com cerca de 20 modificações genéticas. Declaração marca uma mudança de tom em relação à comunicação anterior da empresa, que, em abril, anunciou publicamente ter promovido a "primeira desextinção bem-sucedida do mundo". Especialistas ouvidos pelo New Scientist apontaram que o discurso recente da cientista-chefe destoa da estratégia de comunicação da empresa, que em comunicados oficiais tratou os animais como exemplares da espécie extinta. Além disso, há incertezas sobre até que ponto os animais recriados se assemelham aos lobos terríveis originais. Polêmica reforça críticas recorrentes à ideia de que avanços em "desextinção" possam reduzir o apoio à conservação de espécies ameaçadas atualmente. Lobo-terrível atualmente, já com cinco meses. — Foto: Colossal Biosciences A cientista-chefe da Colossal Biosciences, Beth Shapiro, admitiu, em entrevista recente ao New Scientist, que os animais apresentados pela empresa como "lobos-terríveis" são, na realidade, lobos-cinzentos com cerca de 20 modificações genéticas. Ou seja, não se trata da desextinção real da espécie, que desapareceu há cerca de 10 mil anos. A declaração representa uma mudança no discurso da Colossal. Em abril, a empresa afirmou ter feito a "primeira desextinção bem-sucedida do mundo" com o nascimento de três animais chamados Romulus, Remus e Khaleesi. Em reportagem sobre o anúncio, o g1mostrou que comunidade científica reagiu desconfiança: 'Exageraram ou mentiram', disse um cientista sobre desextinção do lobo-terrível; veja reações. Exageraram? Cientistas reagem sobre desextinção de lobo-terrível Na entrevista ao "New Scientist", Shapiro afirmou: “Não é possível trazer de volta algo idêntico a uma espécie que existia. Nossos animais são lobos-cinzentos com 20 alterações genéticas clonadas. Dissemos isso desde o começo. Colocaram o nome de ‘lobos terríveis’ de forma coloquial, e isso irritou as pessoas.” A Colossal, no entanto, sustentou até recentemente a escolha de chamar os animais pelo nome popular. “Mantemos nossa decisão de nos referirmos a Romulus, Remus e Khaleesi, de forma coloquial, como lobos terríveis”, declarou a empresa em nota anterior publicada na rede social X. Especialistas ouvidos pelo New Scientist apontaram que o discurso recente da cientista-chefe destoa da estratégia de comunicação da empresa, que em comunicados oficiais tratou os animais como exemplares da espécie extinta. “Leio isso como uma declaração clara do que eles fizeram e não fizeram — e o que eles não fizeram foi trazer de volta um lobo terrível da extinção”, afirmou Richard Grenyer, da Universidade de Oxford. Desextinto? Como empresa fez edição genética para anunciar volta do lobo-terrível Além disso, há incertezas sobre até que ponto os animais recriados se assemelham aos lobos terríveis originais. Pesquisadores como Claudio Sillero, também da Universidade de Oxford, lembram que há indícios de que os lobos terríveis tinham pelagem avermelhada, e não branca, como sugerido nos materiais de divulgação. A polêmica reforça críticas recorrentes à ideia de que avanços em "desextinção" possam reduzir o apoio à conservação de espécies ameaçadas atualmente. Shapiro rebateu essa interpretação: “Agora, de repente, estão associando [a desextinção] à ideia de que não precisamos nos importar. Isso é terrível”, disse. O debate sobre a fronteira entre biotecnologia e conservação segue aberto, com especialistas ponderando que, embora a Colossal esteja promovendo avanços significativos na engenharia genética, o feito não configura, tecnicamente, a reversão de uma extinção. “É transformador, é ciência inovadora — mas não é desextinção”, resumiu Grenyer ao New Scientist.