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Sinais de água em Marte eram, na verdade, poeira, revela novo estudo Por Reuters 20/05/2025 09h31 Atualizado 20/05/2025 Novo estudo questiona existência de água líquida em Marte Imagens de Marte tiradas da órbita, datadas da década de 1970, capturaram curiosas faixas escuras percorrendo as encostas de penhascos e paredes de crateras, que alguns cientistas interpretaram como possíveis evidências de fluxos de água líquida, sugerindo que o planeta abriga ambientes adequados para organismos vivos. No entanto, isso mudou: um novo estudo lança dúvidas sobre essa interpretação. Examinando cerca de 500 mil dessas formações sinuosas detectadas em imagens de satélite, os pesquisadores concluíram que elas foram criadas provavelmente por processos de seca, que deixaram a aparência superficial de fluxos líquidos, reforçando a visão de Marte como um planeta desértico atualmente inóspito à vida – pelo menos em sua superfície. Listras escuras em forma de dedos se estendendo pela superfície empoeirada de Marte em uma região chamada Arabia Terra são vistas nesta fotografia de satélite da NASA divulgada em 19 de maio de 2025. — Foto: NASA/Divulgação via REUTERS Direitos de Licenciamento de Compra Os dados indicaram que a formação dessas faixas é impulsionada pelo acúmulo de poeira fina da atmosfera marciana em terrenos inclinados, que é então lançada encosta abaixo por fatores como rajadas de vento, impactos de meteoritos e terremotos. "As minúsculas partículas de poeira podem criar padrões semelhantes a fluxos sem líquido. Esse fenômeno ocorre porque poeira extremamente fina pode se comportar de forma semelhante a um líquido quando perturbada — fluindo, ramificando-se e criando padrões semelhantes a dedos à medida que se move encosta abaixo", disse Adomas Valantinas, pesquisador de pós-doutorado em ciências planetárias na Universidade Brown e colíder do estudo publicado na segunda-feira (19) na revista Nature Communications. "É semelhante a como a areia seca pode fluir como água quando despejada. Mas em Marte, as partículas ultrafinas e a baixa gravidade realçam essas propriedades fluidas, criando características que podem ser confundidas com fluxos de água, quando na verdade são apenas material seco em movimento", acrescentou Valantinas. O estudo examinou cerca de 87.000 imagens de satélite — incluindo aquelas obtidas entre 2006 e 2020 por uma câmera a bordo da sonda Mars Reconnaissance Orbiter da NASA — de faixas de encostas, que se formam repentinamente e desaparecem ao longo dos anos. Elas têm, em média, 600 a 775 metros de comprimento, às vezes ramificando-se e contornando obstáculos. As faixas de encostas concentraram-se principalmente no hemisfério norte, particularmente em três grandes aglomerados: nas planícies de Elysium Planitia, nas terras altas de Arabia Terra e no vasto planalto vulcânico de Tharsis, incluindo o vulcão Olympus Mons, cerca de três vezes mais alto que o Monte Everest. Os pesquisadores afirmaram que as limitações na resolução das imagens de satélite significam que elas representam apenas uma fração das faixas de declive. Eles estimaram o número real em até dois milhões. A água é considerada um ingrediente essencial para a vida. Marte, bilhões de anos atrás, era mais úmido e quente do que é hoje. Resta saber se Marte possui água líquida em sua superfície quando as temperaturas podem, sazonalmente, ultrapassar o ponto de congelamento. Ainda é possível que pequenas quantidades de água – talvez provenientes de gelo enterrado, aquíferos subterrâneos ou ar anormalmente úmido – possam se misturar com sal suficiente no solo para criar um fluxo mesmo na superfície gelada de Marte. Isso levanta a possibilidade de que as faixas de declive, se causadas por condições úmidas, possam ser nichos habitáveis. "Em geral, é muito difícil a existência de água líquida na superfície marciana, devido à baixa temperatura e à baixa pressão atmosférica. Mas salmouras — água muito salgada — podem existir por curtos períodos de tempo", disse o geomorfólogo planetário e colíder do estudo, Valentin Bickel, da Universidade de Berna, na Suíça. Dado o enorme volume de imagens, os pesquisadores empregaram um método avançado de aprendizado de máquina, buscando correlações envolvendo padrões de temperatura, deposição de poeira atmosférica, impactos de meteoritos, a natureza do terreno e outros fatores. A análise geoestatística constatou que faixas de declive frequentemente aparecem nas regiões mais empoeiradas e se correlacionam com padrões de vento, enquanto algumas se formam perto de locais de impactos e terremotos recentes. Os pesquisadores também estudaram características de vida mais curta, chamadas linhas de declive recorrentes, observadas principalmente nas terras altas do sul de Marte. Elas crescem no verão e desaparecem no inverno seguinte. Os dados sugeriram que elas também estavam associadas a processos secos, como redemoinhos de poeira e quedas de rochas. A análise constatou que ambos os tipos de características não estavam tipicamente associados a fatores indicativos de origem líquida ou congelada, como altas flutuações de temperatura da superfície, alta umidade ou orientações específicas de declive. "Tudo se resume à habitabilidade e à busca por vida. Se as estrias de declive e o nível de água residual fossem realmente impulsionados por água líquida ou salmouras, poderiam criar um nicho para a vida. No entanto, se não estiverem vinculados a processos úmidos, isso nos permite concentrar nossa atenção em outros locais mais promissores”, disse Bickel. LEIA TAMBÉM: Sonda da Nasa captura pela primeira vez aurora em luz visível em MarteCuriosity encontra moléculas relacionadas à vida em MarteViagem para Marte: por que Trump tem só uma 'janela' e terá que correr para enviar missão ao planeta vermelhoRover chinês detecta evidências de antigas margens oceânicas em Marte Cientistas questionam indícios de 'vida' em outro planeta